segunda-feira, 29 de março de 2010

Máquina do Tempo

Ah... ah se eu pudesse voltar no tempo... voltar àqueles dias em que tudo era alegria, em que as aquarelas do meu dia pintavam quadros impressionistas, sem nexo, e eu caminhava como anexo, anexo a tudo isso. Dias que não me preocupava em reagir, quem sabe apagar e corrigir... dias que pintar o sete não era mais do que bagunçar uma partida de xadrez, ou destemperar um molho inglês...
Hoje eu acordei vivendo no passado, em dias que eu era muito menos, mas ainda creio que eu era mais... muito mais... me desencontrei de mim... me perdi num ônibus, me perdi numa estrada... ah... eu queria voltar, voltar pro dia Xis, do mês Xis, do ano Xis... era tudo mais simples.
Pode até ser que eu tivesse menos companhia, mas acho que eu me tinha mais. Ah... ah se eu pudesse voltar no tempo... não que eu fosse feliz e não soubesse... mas quem sabe os caminhos tomados fossem mais experimentados, não acho que mudaria as decisões... só acho que perderia as minhas indecisões. Sinto falta, falta de mim, ou melhor de um pedaço que tiraram e esqueceram de devolver, ou quem sabe perdi por falta de atenção por tanto chão que percorri.


"Se eu soubesse antes o que sei agora erraria tudo exatamente igual..."
Humberto Gessinger

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sodoma e Gomorra


Pra quem não conhece a Bíblia [meu caso, partes que me vieram ao interesse, como essa] Sodoma e Gomorra são duas cidades destruídas por Deus, sendo a justificativa os atos cruéis, imorais, hedonistas presumo, de seus habitantes.
Verdadeira fúria divina? Verdadeira omissão humana? Não conheci Sodoma, muito menos Gomorra, mas não creio que sejam muito diferentes das nossas cidades, a diferença, é que ou tudo ficou muito normal, ou muito banal.
...
Amsterdã, Nova Orleans, Genebra, Rio de Janeiro.
...
Pessoas diferentes, atos semelhantes? Pessoas iguais, atos diferentes? Não... só pessoas, boas ou más, puras ou devassas, simples ou complexas, novamente não, só pessoas. O caráter não se define por quem ela é, nem pelo que ela faz - o que define então? - nada define, a vida e os erros moldam, mas continuam a ser pessoas. Corrompidas? Não... só pessoas, que pregam sua falsa moral, ou sua imoralidade, ninguém se corrompe, se é e se revela, vive-se em Sodoma e Gomorra, mas agora quem escreve o livro pra no futuro lerem? Pois tudo é tão normal, a parte do humano no ser é quem garante tudo que fazemos, justificar pra quê? São só pessoas, e enquanto presas a essa condição forem, nada se justifica, nada se entende, assistimos, com direito a vaiar ou aplaudir, plateia e palco ao mesmo tempo.
No fim, Sodoma e Gomorra.




PS: Não me atrevo a falar de religião, sou pouco religioso, só uma pequena lembrança.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Er...?

"Puxa! Puxa! Como tudo está tão estranho hoje! E ontem as coisas estavam tão normais! O que será que mudou à noite? Deixe-me ver: eu era a mesma quando acordei de manhã? Tenho a impressão de ter me sentido um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima questão é 'Quem sou eu?" Ah! está é a grande confusão!" (Lewis Caroll - Alice in Wonderland)

Isso foi o que disse Alice [sim, essa Alice mesmo] quando percebeu que depois de ter entrado na toca do coelho, tudo ficou meio diferente do que ela estava acostumada... Mas acima de toda a estranheza do que acontecia, havia o estranhamento de quem ela era.
E quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós?
Eu não sei quem você, ou eu, ou nós somos, mas sei que a terceira pessoa do plural deve ser levada em consideração tanto quanto a primeira do singular. Todos os dias são diferentes, acontecem fatos que não esperamos, o torna mais surpreendente, mais inusitado, mais sofrido quem sabe... Mas a nossa estranheza de cada dias nos dai hoje, não pode afetar as 'não-estranhezas' do resto que compõe a terceira pessoa do plural.
No mais digo que... digo que...

Bom, um texto que se baseia em Alice, só pode ser non-sense, então pode parar de procurar 'sense' no texto, pois nem de "quem somos?" ele fala, muito menos de quão estranho os nossos dias são, eu estou estranho, logo, o texto me é estranho, e está tudo tão estranho hoje, que nem me preocupo se eu sou o mesmo de ontem, e serei o mesmo amanhã, sendo o mesmo de agora, já me basta.