segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Crônica de Qualquer Dia

Tão tangível quanto o ar, o toque firme do vento, é o passar dos dias, o sentimento de vazio e vácuo por vezes nos intimida. Um dia desses o vácuo veio visitar, acho que visita a todos, sem pedir licença, bem mal educado mesmo, e nesse instante é que se percebe o quanto certas coisas fazem falta.
Hoje o sentimento não é de um estrangeiro, é de um nativo, nativo que conhece como as linhas da mão o traçado de uma vida. Parece que tudo está correndo como o programado, ritmo certo, rota ideal... porém a programação às vezes cansa.
Esses dias tediosos, que nos fazem pensar, nos tiram do sério, melhor não pensar, não estipular, não planejar. O sentimento de nativo parece assustar, a terra estrangeira que não mais existe nos tira a excitação, onde está a dúvida do caminho? A incerteza de pegar a esquerda ou à direita? O não desbravar tira qualquer um do sério, ou pelo menos deveria.

Sabe o que frustra? Ter certeza. A certeza nos torna cansados, sem perspectiva, esses dias de um nativo não podem durar, o estrangeiro é um turista que qualquer coisa impressiona. Sabe de uma coisa, pega esse mapa aí, e rasga ele todo.

sábado, 7 de junho de 2014

Futuro

Um dia desses me perguntaram o que eu queria do meu futuro, respondi: "que nunca chegue". Tolice minha pensar assim... ou devo dizer ingenuidade? O tempo, como explicou o cientista, é relativo, logo passado, presente, futuro são na verdade a mesma coisa, e eu descobri como se para o tempo... mas vou deixar isso em segredo, um dia se por acaso for preciso eu paro, pois por agora eu quero que ele continue seguindo, porque tudo na vida passa. 
Os tempos são assim, quando menos esperamos aquele sorriso cerrou os dentes, aquele brilho no olhar chorou de tristeza, aquele piscar de olhos durou menos que isso... pra que se preocupar se vamos dar certo na vida? Mal sabemos que demos, no momento que nascemos e até agora estamos, significa que estamos dando certo, o resto quem inventou fomos nós, o importante é ir seguindo, pois só fracassamos quando nos conformamos.
Nesse mesmo dia me lembrei de quando eu era criança (ou seja, ontem/hoje/amanhã) e me lembrei do que eu queria ser quando crescer, devo dizer que a criança que eu era não está triste comigo, claro, não tinha pretensões muito altas, a não ser quando eu deveria ter aprendido a voar... me desculpa, nisso eu falhei... mas nos outros aspectos eu acho que tenho feito tudo direito. Acho que isso serve pra todos.
Qual o legado que queremos deixar? Fácil, não temos que querer, apenas deixar, porque quando menos esperarmos já realizamos aquilo que queríamos e deixamos uma marca, seja na história ou seja no chão de terra, alguma diferença fizemos. 
E se me perguntassem novamente:
- O que quero do futuro?
- Que ele tenha calma, só isso.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Woodstock ou Não


Nem todo dia precisa ser um Woodstock, um mega show de rock, uma loucura, uma nova leitura, nem todo dia precisa ser uma orquestra sinfônica, uma harmonia nipônica. Às vezes os dias podem ser comuns, tediosos, lerdos, sonolentos, puro desalento. 
Mas todos os dias precisam ter sempre você, pois depois de você, qualquer buzina é solo de guitarra, qualquer martelada, é uma percussão afinada, num precisa ser Woodstock, só você no palco, ainda que sem voz e sem violão.



Hévila, só você, ainda que sem voz e sem violão.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Sentido! Não faz... sentido..."


De longe o som bem baixo, a música vindo de uma direção não identificada, dizia no refrão "It ain't me babe/ It ain't me you're looking for", seria essa mais uma daquelas ironias da vida? Ele sabia que sim, "coincidências não existem" ele pensava. No canto do quarto, um porta-retrato, velho, moldura demodê, como tudo que ele tinha, como tudo que ele fazia, ele era antiquado, não servia aos padrões, mas quem liga? Na sua pele tinha escrito permanentemente:
"E que fique muito mal explicado.
Não faço força para ser entendido.
Quem faz sentido é soldado..."

quinta-feira, 26 de abril de 2012

s2

Tu-Tum, Tu-Tum, Tu-Tum, Tu-Tum, Tu-Tum,
Bate no compasso de uma música, bate acompanhando uma zabumba.
Bate esperando um olhar, acelera, disritma.
Bate até se controlar, ou abandona o controle e se entrega.
Bate, porque tem que bater, por falta de opção e mais nada? Que nada.
Bate porque é vida, porque é bobo. 
Aos que não tem motivo pra bater, só resta: Tu-tum........Tu-tum.........e Fim.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Cega, surda e louca.

O tribunal mais implacável para um ser humano, de bem, é sua própria consciência, ainda que ele seja réu, juri, testemunha, promotor, advogado de defesa e juíz. A mente nos propõe uma infinidade de obstáculos, todos transponíveis, todos passíveis de fim, porém junto de cada um deles, existe um sentimento que às vezes perpassa o receio... chegando ao terror... e cabe ao tribunal decidir qual sentença pra esse réu tão culpado e tão inocente... as decisões são as mais esdrúxulas possíveis, e não seguem boas lógicas.
A consciência nos desorienta, obnubila qualquer chance de mudança de pensamentos, mareja os olhos, raramente clareia nossas ideias, tem capacidade pra julgar inúmeras questões, o único problema, é que as sentenças nem sempre são cumpridas, e é aí que reside o maior dos perigos, em muitas das vezes sabemos qual o fim dado ao réu, mas nem sempre ele aceita, quando se trata de ódio e amor... ele costuma ser réu recorrente... e dificilmente admite o julgamento. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

1984... Big Brother... histórias únicas e os ditos fatos...

Com frequência quando converso com alguém ou me perguntam sobre sugestão de livro pra se ler,  faço questão sempre de incluir, independente do gosto, crença, visão política e afins que essa pessoa tenha o grandioso (sim, adjetivo tendencioso, porém sincero) livro "1984" de George Orwell, ele descreve um futuro distópico nos longínquos anos de 1984... sim distantes para o escritor que o escreveu em 1948 (daí a inversão e escolha da data futura), em que vivemos num mundo divido entre 3 grandes potências, sim ele descreveu a Guerra Fria, Oceania, Eurásia e Lestásia... ou seria EUA e Capitalistas, URSS e demais comunistas e a China? No livro ele descreve um mundo em que: "Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado... quem controla o passado, controla o futuro" onde o governo no seu jeito "duplipensar" de agir e fazer conduz a sociedade a uma alienação, ao esquecimento dos fatos, ao encobrimento de fatos, e alteração dos fatos... pois sim, o que seria o fato se dependemos de alguém pra descrevê-lo, como algo pode ser fato? Se nós não acreditarmos, em nós mesmos, e naquilo que vimos, deixa de ser fato, vira boato, se perde... e se esquece... o governo do livro na personificação do "Big Brother" (não, não esse da televisão, o nome surgiu do livro mesmo), o Grande Irmão do livro controla a vida da população, garante sua segurança, no trocadilho em inglês "Big Brother watches you" sim, ele zela por nós, mas também nos assiste, não é a toa que em cada lar da Oceania, uma "teletela" se encontra lá pra manter o discurso do partido em dia, e pra observar os cidadãos em suas casas, e em todos os lugares. É incrível a tamanha riqueza de similaridades de um livro escrito a tanto tempo com nossas vidas hoje em dia... temos nossas vidas vigiadas nas redes sociais, pelos próprios vizinhos, pela mídia, pelo governo... 
É assustador pensar o quanto estamos susceptíveis a sermos enganados pelos ditos fatos do momento, ou dos boatos do futuro, o que é fato de verdade? O que é verdade? O que é a verdade? Antes de virar verdade precisamos acreditar... ou seja falso ou verdadeiro quem decide somos nós, se acreditamos nos registros históricos que dizem e "comprovam" que houve um Cabral, e não alguém que tenha forjado toda a nossa história, e é isso que passamos dia após dia.
Antigamente não tinhamos a noção de quanto podemos estar vivendo na Matrix... sim... outra referência... esse medo é real, eu acredito, sabe? É a tal da história única, como nos contou uma vez Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana, mostrando o quão perigoso é acreditar e somente analisar uma história única... considerar apenas a informação de uma única fonte, sem analisar contexto e lados da história é fechar os olhos e viver na Oceania de Orwell, em que mesmo que por um instante você crê que aquilo que te contam é mentira, o fato de todos acreditarem e propagarem como verdade, te faz desacreditar de si, e assimilar o do restante. 
A informação hoje é tão fácil e palpável pra tanta gente... e com isso nós temos responsabilidade com essa informação, não adianta apenas propagar, compartilhar e porque não "curtir", temos que analisar, pra não sermos controlados pelo Grande Irmão... porque no início "A Oceania sempre esteve em guerra com a Eurásia", mas quando menos esperamos "A Oceania sempre esteve em guerra com a Lestásia".

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Lúcidez confusa...

Sinceramente me perco nos paradoxos da vida, olho pros lados numa rua qualquer vejo mentes iguais, em rostos diferentes, vejo isso ao olhar um auditório cheio, vazio de mentes, vazio de ideias, repetem o mesmo discurso, repetem a mesma falácia, as revoluções em sapatos "all-star" acaba ao chegar em casa e alienar-se do mundo. Já foi dito que a juventude por aí é uma banda numa propaganda de refrigerantes... "Che" Guevara na camiseta é símbolo pop, discurso comunista é moda capitalista. 
Sinceramente me perco na realidade e no cotidiano, vejo gente revoltada em páginas de redes sociais, mas ninguém nas ruas pra gritar sua revolta, compartilhamos bobagens na mesma velocidade que elas aparecem... aquilo que vale a pena se perde... se esquece... viver é preciso, discordar é preciso, mas acho que um dia todo mundo cansa... cansa de ver rostos diferentes dizendo coisas parecidas, bonito é, não duvide disso, mas feio e desestimulante é ver tudo isso se perder num instante, naquele instante em que uma voz mais alta se eleva, que o medo se encarrega de nos tirar do rumo... e sempre acreditamos que o rumo que seguimos é o rumo que todos deveriam seguir... o único rumo certo é aquele que eu escolhi pra mim, e como já ouvi de um outro alguém "...uma contradição andante, parcialmente verdade, parcialmente mentira, tomando todas as direções erradas no seu caminho pra casa..."

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Dizem...

Dizem por ai que você gosta de mim, dizem por ai que você tem vontade de estar comigo, mas dizem tantas coisas, dizem tantas mentiras, que acreditar é um risco muito grande... dizem por ai que as coisas que eu te digo te deixam feliz, dizem por ai que você gosta de conversar comigo, dizem por ai que você sorri quando lembra de mim... mas só dizem, dizem tanta coisa, dizem tanto sobre tão pouco, que tampouco eu sei dizer se eu acredito, dizem tudo isso sabe, eu não sei... confesso que se for tudo verdade espero que mais ninguém me diga, só você.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

[CONTOS] Ana II

Um mês se passara e Ana pouco tinha progredido na sua busca de um lar, tinha andado por várias vilas e comunidades, mas nada que se pudesse julgar passível de morar. Era final de Outubro, sentia a brisa quente nos cabelos enquanto andava, andou até encontrar uma boa vista pra o pôr-do-sol, magnífico por aquelas bandas, céu alaranjado, com poucas nuvens e o gigante amarelo descendo devagar.
Ela adorava ver o Sol se por, era leitora assídua de "O pequeno príncipe" de Exupéry, e o trecho em que o príncipe dizia que gostava de ver o pôr-do-sol quando estava triste era sua parte predileta, ela também gostava de ver o crepúsculo, e nessas horas ela parava pra conversar com seu amigo imaginário, amigo esse que surgiu num desses dias solitários e tediosos.
- Você notou que esses dias eu tenho estado mais feliz? - perguntou Ana com os olhos marejados e nada felizes.
- Notei... notei que você tem aprendido a mentir - veio a resposta de algum lugar que não possa ter sido além de sua mente.
- Por que você diz isso? - ela se virou e notou que havia uma criança ao seu lado, ouvindo o diálogo ou monólogo, não havia como definir - Quem é você? De onde você veio?
O menino aparentava ter uns 6 anos apenas, olhos sem brilho, rosto sério, não tinha pretensões de responder, apenas chorava, segurava na mão uma foto, entregou a Ana que reparou na imagem de um bebê, nos braços de alguém, provavelmente sua mãe, e ao lado dela um rapaz.
- É você na foto? - ele balançou a cabeça negativamente, e apontou pra foto e pra ela. - Como assim? Sou eu?
No instante seguinte ela estava deitada escrevendo numa folha em meia página, algo sobre a solidão de não ter pais e não conhecer os seus, era noite, céu estrelado, e de seus olhos caia uma lágrima, teria sonhado? Ela não saberia dizer, pouco saberia definir o que era verdade e o que era mentira nesses últimos dias, passava a viver uma esquizofrenia sem fim, e isso a deixava depressiva, nada mais fazia sentido, isso aqui não faz o menor sentido.